terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A boneca de trapos


A cor escura da sua pele e o seu cabelo sempre encrespado, já chamavam muita atenção na escola, mas desta vez as coleguinhas estavam a aborrecê-la por outra razão. Malika tem uma boneca de trapo, muito velha, que carrega sempre consigo.

- Não sei porque é que não a deitas para o lixo! – Disse a Ester. – De certeza que a tua mãe te pode dar bonecas muito mais giras!
- Olha a minha. – Pediu a Rita mostrando a sua bebé que até piscava os olhos. – Chama-se Maria. Vês como é bonita.
- Ao lado da boneca da Rita, a tua é horrível. – Disse Ana.
Malika não respondia às provocações das colegas. Para ela, a sua boneca era muito especial.


Rodrigo, o matulão lá da escola, que tinha a mania que mandava em tudo, aproximou-se.
- Não percebo porque é que as raparigas gostam tanto de bonecas! – Exclamou com desdém pegando na boneca da Rita.
A Rita começou a chorar quando Rodrigo ameaçou pôr a boneca no lixo.
- Pára! – Suplicou entre lágrimas tentando tirar-lhe a boneca. – É nova. – Disse chorando ainda mais.
- Mas é muito feia! – Respondeu o Rodrigo a rir, como se o que estava a fazer tivesse muita graça.
- Mais feia é a da Malika. Feia e velha. Põe antes a dela no lixo e devolve a minha. – Pediu a Rita.
- Não digas isso! – Pediu Ester à Rita, mas Rita continuou.
- De certeza que não custou dinheiro nenhum e a minha custou! – Afirmou quase gritando.
- Se calhar tens razão. Ninguém vai ralhar comigo por pôr uma boneca tão feia no lixo. Já está velha! Além disso apetece-me mesmo muito deitar uma das vossas bonecas para o lixo.
- Por isso mesmo, mete a dela que não vale nada.

Malika viu assustada, o Rodrigo caminhar na sua direcção.
- Por favor, não o faças. – Pediu. Mas ele arrancou-lhe a boneca e ao faze-lo rasgou-lhe um braço.
Malika viu impotente o grandalhão pôr a boneca no lixo, sem que ninguém se mexesse para o impedir.

Depois da maldade feita, Rodrigo deixou as garotas em paz, voltando para o jogo de futebol.
Malika chorava, Ana e Ester pediam-lhe desculpa e Rita escondia a cara cheia de vergonha pelo que tinha feito. Só pensara em si e na sua boneca.
- Não sabia que gostavas assim tanto dessa boneca. – Disse-lhe triste. – Não te preocupes, se tu pedires, a tua mãe dá-te uma nova. Como a minha. – Disse tentando animá-la e mostrando-lhe a sua boneca.
- Eu não quero uma nova. – Disse Malika por entre as lágrimas encostada à parede e enrolada como uma bolinha.
- Como é que tu podes gostar tanto dessa boneca?
- Ela era especial?
- Porquê? – Perguntou Rita teimosa.
- Porque foi a minha mãe da África que a fez! – Respondeu Malika e correu para a sala de aula deixando as outras para trás.
Ester foi buscar a boneca ao caixote do lixo. Se antes já era feia e velha, agora nem parecia uma boneca.

Em casa Ester contou ao Jónatas.
- Queres que bata nesse Rodrigo para ele aprender? Eu sou mais velho e maior, não tenho medo dele. – Afirmou o mano, levantando-se da cama dando murros e pontapés ao ar, para mostrar como era forte.
A avó Licínia que estava lá em casa para tomar conta do Jónatas que estava doente, entrou no quarto com o lanche dos pequenos.
- Jónatas, volta já para a cama. Um menino doente não pode por os pés descalços no chão. – Explicou. – Em quem é que queres bater?
Jónatas que não esperava que a avó tivesse ouvido a conversa, sentiu-se envergonhado. Ele sabia que não devia bater em ninguém. Nem Jesus, que era o maior e o mais forte e a quem chegaram a bater, se defendeu batendo também.

Ester contou à avó a história toda.
- O Rodrigo pode ser um menino mal comportado, mas ele não conhece o Senhor Jesus. Nós que conhecemos não vamos fazer o que ele faz.
- Tens razão avó! – Desculpou-se o pequeno.
- E a Ritinha também não teve uma atitude bonita. – Disse a avó.
- Mas ela gostava muito da boneca. – Explicou a Ester.
- E a Malika também.
- Ela disse que tinha sido a mãe de África a fazer a boneca.
- Ela tem duas mães? – Perguntou o Jónatas.
- Sim. Malika foi adoptada, porque a mãe dela de África era muito pobre.
- Para ela, a boneca é a única lembrança que tem da mãe. Nenhuma outra boneca, por mais cara que seja, a pode substituir. – Explicou a avó.
- Eu trouxe a boneca avó, olha. – E mostrou a boneca à avó.
- Realmente está a precisar de uns remendos. Ajudas-me a arranjá-la?
- Sim! – Exclamou Ester que queria muito ver a sua amiga contente outra vez.
- Sabes onde a mãe tem a caixa da costura?
- Eu sei! Vou buscar. – Disse o Jónatas pronto para saltar da cama.
- Tu não vais a lado nenhum. – Avisou-o a avó. Meninos doentes, não têm autorização para sair da cama a não ser para ir fazer xixi.
- Eu vou avó. – Ofereceu-se Ester já a correr para fora do quarto.

Enquanto Ester procurava a caixa de costura da mãe onde o mano lhe tinha dito, a avó lavava a boneca no lavatório da casa de banho.
- Já tenho a caixa avó. – Informou a Ester
- E eu vim fazer xixi. – Disse o espertalhão Jónatas. A avó riu-se.
- Espero que não te tenhas esquecido de calçar as pantufas.
- Não esqueci. – Afirmou o menino com muita convicção.
Os pequenos viam a avó lavar a boneca com muito cuidado à medida que a água ficava escura e suja. A avó aproveitou para explicar:
- Vocês sabem que foi Deus que nos fez. Quando fez Adão e Eva, fê-los perfeitos, sem qualquer defeito, mas quando eles o desobedeceram, ficaram feios, quebrados e sujos como esta boneca. E Deus ficou muito, muito triste, porque gostava muito, muito deles. Então fez um plano para os concertar. Jesus veio à terra para que pudéssemos ser limpos das maldades que fazemos e para que Deus nos possa arranjar. Ao morrer por nós Jesus lavou-nos as nossas manchinhas.
- Será que a água ficou tão suja como esta? – Perguntou Ester.
- Deve ter ficado bem mais suja.
- Txiiiii! – Exclamaram os pequenos.

A avó pegou na boneca já lavada e secou-a com o secador.
- Parece mais nova! – Exclamou o Jónatas.
- E mais colorida! – Acrescentou Ester.
Depois de seca, a avó levou-os para o quarto onde já com o Jónatas novamente na cama, começou a cozer o braço da boneca que tinha sido rasgado.
- Agora Deus vai curando as nossas feridas aos pouquinhos. Ás vezes dói, mas no fim, vamos ficar como novos.
- Olha avó. – Nem parece a mesma boneca.
Depois do braço cozido, a avó arranjou dois botões para os olhos, substituindo os partidos. E colocou remendos coloridos onde o tecido estava tão gasto que não podia ser cozido.
- Está tão bonita! Parece que tem uma roupa nova. – Exclamou o Jónatas.
- Como esta boneca, as coisas realmente valiosas não têm preço. Somos tão importantes para Deus que Jesus morreu para que ficássemos como novos e pudéssemos ser felizes.
- Deus tem sempre tanto trabalho connosco! – Comentou o Jónatas.
- É verdade. Porque teimamos em sujar-nos e em desobedecer-lhe. Quando lhe desobedecemos magoamo-nos. E Depois Deus tem que tratar novamente das nossas feridas. Mas fá-lo com carinho e com paciência porque somos muito importantes para ele.
- Obrigada avó. Acho que a Malika vai gostar.
- Foi um prazer querida.

No dia seguinte, Ester levou a boneca a Malika que a recebeu sem acreditar no que via.
- Oh Ester, obrigada. Está como nova. – Agradeceu abraçando a boneca.
- É tão bonita a tua boneca. – Disse a Ritinha, aproximando-se para a ver melhor. – Desculpa Malika. – Pediu envergonhada. – Não pensei que fosse tão importante para ti!
- Não faz mal Ritinha. Já passou. Agora a minha boneca está como nova!
- Gostava de ter uma assim. – Disse a Ana. - É diferente de todas as outras.
Ester estava muito contente. Malika recuperara a sua boneca, e todas fizeram as pazes.



Escrito por: Magna Santos
9 de Fevereiro de 2009

2 comentários:

O cantinho da Susi disse...

Está muito bonita a história! Adorei!
Vou passar cá mais vezes para ler as tuas historinhas! :)

O cantinho da Susi disse...

Está muito bonita a história!
Adorei!
Vou passar cá mais vezes para ler as tuas historinhas! :)